Eu sem rima, como sou


Nasci mutante, 
artista por talento e por alma 
complicada por natureza. 
Da palavra, 31 anos de amizade
destes, só me lembro 28
me disseram ter memória de elefante
mas tenho memória seletiva e exigente
nem eu mesmo mando nela.
Uma selvagem domesticada por conta dos anos
avelhantar-se cada dia nos deixa temerosos. 
Mas selvagem
das florestas de mim mesma.
Dentro de mim
um mundo em movimento
em mutação constante. 
Deste meu jeito
desta facilidade de mudar de opinião 
não quero e não devo abrir mão
é o que me faz quem sou
consumidora compulsiva 
da vida que me ensina 
todo dia
uma maneira de ser melhor.

A dança

E de repente dançar,
martelando o corpo no vento
frenético, robótico, perfeito
e de repente parar,
suado, alegre e cansado

Pasárgada

Vou-me Embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira


    Vou-me embora pra Pasárgada

    Lá sou amigo do rei

    Lá tenho a mulher que eu quero

    Na cama que escolherei

    

    Vou-me embora pra Pasárgada

    Vou-me embora pra Pasárgada

    Aqui eu não sou feliz

    Lá a existência é uma aventura

    De tal modo inconseqüente

    Que Joana a Louca de Espanha

    Rainha e falsa demente

    Vem a ser contraparente

    Da nora que nunca tive

    

    E como farei ginástica

    Andarei de bicicleta

    Montarei em burro brabo

    Subirei no pau-de-sebo

    Tomarei banhos de mar!

    E quando estiver cansado

    Deito na beira do rio

    Mando chamar a mãe-d'água

    Pra me contar as histórias

    Que no tempo de eu menino

    Rosa vinha me contar

    Vou-me embora pra Pasárgada

    

    Em Pasárgada tem tudo

    É outra civilização

    Tem um processo seguro

    De impedir a concepção

    Tem telefone automático

    Tem alcalóide à vontade

    Tem prostitutas bonitas

    Para a gente namorar

    

    E quando eu estiver mais triste

    Mas triste de não ter jeito

    Quando de noite me der

    Vontade de me matar

    — Lá sou amigo do rei —

    Terei a mulher que eu quero

    Na cama que escolherei

    Vou-me embora pra Pasárgada.

Cor da pele


Quando criança eu tinha cor de copo de leite e boca de morango maduro, parecia uma boneca de porcelana de tão delicada que era! Minha mãe diz que eu era a criança mais racista que ela conhecia. Pelo que vejo hoje, Deus me faz pagar minhas meninices amando alguem que tem cor de chocolate ao leite! (risos)
Esta última frase, meio que desleixada, escrita como que não se conhecesse Deus! Ah! Bem sei que Deus não castiga! Talvez se ria de minhas criancisses, como quem se diverte com as quedas do filho caçula!

Consigo

 Eu
 
Às vezes é melhor estar só...
Mas nossa ansiedade por pessoas que amamos nos puxa para fora de casa
E depois de algumas horas cercada de gente, mas tão só quanto antes
Pergunto-me porque não fiquei?
Porque não apreciei o vinho doce de minha boa companhia?
São muitos os momentos que a melhor companhia somos nós mesmos...